Efeitos psicossociais do racismo religioso (Bahia-Alagoas): entre dores históricas e lutas atuais por reconhecimento
Racismo religioso. Comunidades de terreiro. Trauma cultural. Violência. Reconhecimento.
A presente pesquisa busca entender os efeitos psicossociais do racismo religioso junto a comunidades de terreiro dos Estados da Bahia e Alagoas. O fenômeno pode ser compreendido como forma específica de intolerância religiosa em que as agressões têm um viés racial, dirigindo-se especificamente a praticantes de religião de matriz afro-indígena. Partimos da contextualização do racismo religioso na experiência histórica dominação colonial e subalternização dos povos originários e trazidos de África, que se deu também em termos espirituais e culturais, e sua conexão com a noção de trauma social que ecoa e se atualiza no cotidiano de violência e menosprezo, com a limitação ou o arrebatamento de liberdades e de direitos e negação ao reconhecimento nas relações consigo mesmo e com o outro ampliado (família, comunidade, sociedade, Estado). Visando a evidenciar um tipo de sofrimento num quadro de violência cultural - de bases coletivas e nem sempre palpável e visível - lançamos mão de um olhar ampliado e complexo sobre as dinâmicas da subjetividade e emoções para realizar uma escuta qualitativa de vítimas e também de instituições que realizam acolhimento e tratamento das demandas decorrentes do racismo religioso. Sujeitos, comunidade, Direito e instituições estão imbricados em teia, uma vez que as relações estabelecidas a partir da violência podem representar fonte de acolhimento ou de aprofundamento de dores; de sua reparação ou renovação. Nesse sentido, através de um desenho qualitativo de fontes variadas nos propomos a cartografar esses processos de modo não exaustivo, porém significativo, de modo a contribuir com o debate e a ampliação do olhar sobre o tema, subsidiando respostas e estratégias desde a perspectiva dos e para os grupos atingidos, bem como a formulação de políticas mais assertivas pelo poder público.