ALCANCES E DESAFIOS DO PROCESSO DE MATRICIAMENTO ENTRE SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO BÁSICA NA REDE MUNICIPAL DE EUNÁPOLIS
Apoio matricial. Saúde mental. Atenção básica. Alcances. Desafios em saúde mental.
O Matriciamento ou Apoio Matricial constitui-se em um equipamento utilizado em Saúde Pública, que ocorre por meio de processo dialógico entre profissionais e participantes da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), de cunho transdisciplinar, intersetorial e em rede, tendo como locus o território. Tal equipamento fundamenta-se em documentos do Ministério da Saúde, apresentando-se como uma forma de cuidado substitutivo dos hospitais psiquiátricos, tendo produzido impacto reconfigurativo nas relações interprofissionais, ao priorizar a corresponsabilidade do cuidado, nos diversos níveis de atenção. O interesse em estudar o Matriciamento entre Saúde Mental (SM) na Atenção Básica (AB) e como os profissionais de saúde avaliam sua prática originou-se da experiência com o Projeto Percursos Formativos da RAPS/ Projeto Engrenagens da Educação Permanente, realizados no período de 2013 – 2016 no município de Eunápolis, na Linha de cuidado “Saúde Mental na Atenção Básica”, dentre os quais um dos objetivos relevantes era a implantação do Matriciamento nos territórios. Este trabalho teve por objetivo analisar os alcances e desafios encontrados na prática profissional no processo de Matriciamento entre SM e AB, no contexto do trabalho em rede no município de Eunápolis. Tratou-se de uma pesquisa de campo, qualitativa, do tipo estudo de caso, cujos dados foram coletados em duas etapas: na primeira, realizou-se pesquisa teórica e documental sobre a RAPS e o fenômeno do Matriciamento e, na segunda, foi conduzida uma pesquisa de campo, com uso de questionário sociodemográfico para caracterização dos participantes e de entrevista semiestruturada, cujos resultados foram analisados por meio da Análise de Conteúdo de Bardin. Os resultados apontaram a existência de desafios, mais referidos que alcances, em vista da precariedade ou mesmo da não ocorrência do Matriciamento. Tais desafios revelaram dificuldades para a implementação e manutenção do Apoio Matricial entre SM e AB, incluindo fatores que vão desde aspectos relativos a subjetividades até a insuficiências na formação profissional. Também foram observadas, a partir das entrevistas, problemas relacionados a questões de infraestrutura e de gestão, dentre outros. Quanto aos alcances percebidos, quando da ocorrência do Matriciamento, apontou-se para o aumento da resolutividade em saúde, a quebra de preconceitos com pessoas com transtornos mentais e a melhoria da comunicação e do acesso em saúde, por exemplo. Conclui-se, a partir desta pesquisa, que existe a necessidade de investimento em Educação Permanente para o trabalho em rede e aprimoramento dos profissionais da RAPS local, no sentido de capacitá-los para implantar e manter as ações matriciais. Espera-se que este estudo, ao problematizar o Apoio Matricial, possa promover a ampliação de reflexões acerca da formação profissional no aspecto das ações coletivas e da importância em promover práticas democráticas em saúde, conforme preconizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Finalmente, infere-se que este trabalho traga a possibilidade de contribuir para melhorias na efetividade em Saúde Mental no território estudado.