Modelagem do efeito do vento local sobre a hidrodinâmica do estuário do Rio Buranhém e de sua pluma costeira

Delft3D. Modelagem numérica. Dinâmica estuarina, Porto Seguro.

Compreender a interação entre forçantes físicas como as marés, vazão fluvial e ventos é essencial nos estudos de hidrodinâmica estuarina e costeira. Espera-se contribuir para possíveis medidas de gestão ambiental, uma vez que as praias são os principais atrativos turísticos e econômicos de Porto Seguro e, ao mesmo tempo, influenciadas pelos múltiplos fenômenos que ocorrem na bacia hidrográfica do rio Buranhém, no seu estuário e na zona marinha. O objetivo deste  trabalho foi modelar o efeito do vento local e sua interação com a descarga fluvial e as marés na hidrodinâmica do estuário do rio Buranhém (Porto Seguro, BA) e de sua pluma costeira. Foi escolhido o modelo numérico Delft3D, que  se justifica pelo fato de já estar calibrado e validado para a área de estudo quanto ao efeito das marés e das descargas fluviais, em Rocha (2019). No presente estudo, foi adotada discretização vertical com 10 camadas Z, a fim de se tentar modelar a estratificação vertical de sal, identificada em campo especialmente sob condições de marés de quadratura. Para as etapas de calibração e validação, foram incorporados dados reais de vento. Adotou-se avaliação quantitativa dos resultados, com a utilização dos parâmetros estatísticos Skill e RMSE.  Para compreensão dos possíveis efeitos do vento e reprodução de pluma, considerou-se uma vazão fluvial de até 75 m3/s, além das seguintes condições idealizadas: sem vento, com vento NE, S e SE, e intensidade de 10 m/s para esses três últimos cenários. Além das localidades utilizadas na calibração e validação (P1 - Quinta do Porto; P2 - Marinha e P3 - Marina Buranhém), foram incorporados outros pontos na região costeira adjacente, como o Recife de Fora (P6) e praias onde são realizadas análises de balneabilidade, como a do Mundaí (P4), Taperapuã (P5) e Mucugê (P7). Os resultados referem-se exclusivamente às condições superficiais, uma vez que não foi possível a modelagem em todas as camadas verticais. Para os períodos de calibração e validação, o efeito local do vento foi secundário em relação às marés e descarga fluvial na hidrodinâmica do estuário do rio Buranhém. Já nas simulações da pluma, sob condições idealizadas, a modelagem indica que o vento pode influenciar na hidrodinâmica estuarina. A geormorfologia e a topobatimetria da região foram fatores relevantes nas trocas de água entre a bacia hidrográfica, o estuário e a região marinha adjacente. Exemplo disso é a presença do beachrock/arenito na desembocadura do sistema estudado, o que reforça a importância de uma representação fidedigna das características do ambiente para a modelagem adequada de um ambiente. Já na zona costeira adjacente, a influência do vento local fica evidente quando comparados os resultados para os cenários considerados. Sob condições de vento NE, espera-se que a pluma atinja regiões litorâneas ao sul da desembocadura do rio Buranhém, como a praia do Mucugê (P7). Já sob condições de ventos S e SE, a pluma tende a se deslocar para norte, sem contudo atingir diretamente o Recife de Fora (P6) nas condições simuladas. A pluma deslocou-se muito próximo à linha de costa, onde se localizam praias como a do Mundaí (P4) e de Taperapuã (P5). Ao se analisar as componentes longitudinal e transversal de velocidade na área de estudo, foram modeladas correntes de até 0,6m/s. No ambiente costeiro adjacente, evidenciou-se a influência das marés na modulação das correntes. Sob eventos extremos de vazão e vento, a pluma do rio Buranhém pode afetar a hidrodinâmica estuarina, além da costeira, inclusive em trechos da linha de costa onde estão situados importantes atrativos turísticos do município.