Perfil etnobotânico em terreiros de religiões de matrizes africanas no Sul da Bahia, Brasil
Etnobotânica; terreiros de candomblé; plantas sagradas; Mata Atlântica.
A etnobotânica é uma área da etnociência que estuda a relação entre o homem e os vegetais, e, por conseguinte, o modo como tais plantas são tradicionalmente utilizadas. Dentro dessa perspectiva, se encontram os povos tradicionais de terreiros de candomblé que têm como característica marcante o uso das plantas para fins medicinais e também em seus rituais sagrados. A presente pesquisa está dividida em dois capítulos: o capítulo I refere-se a uma revisão bibliográfica sobre etnobotânica em comunidades religiosas de matrizes africanas no Brasil. A revisão sistemática foi realizada através de buscas por trabalhos publicados e disponíveis em bases de dados (ex., Google acadêmico, Scielo, Scopus e Web of Science), utilizando para isso palavras-chave como plantas medicinais, candomblé, umbanda, ervas sagradas, etnobotânica e religião afro brasileira. Ocapítulo II apresenta dados parciais sobre plantas medicinais e/ou ritualísticas utilizadas por duas comunidades religiosas de matriz africanas no sul da Bahia. Foram pesquisados dois terreiros de candomblé nos municípios de Arataca e Itabuna, Bahia. Os dados foram coletados através de visitas a campo utilizando os principais métodos como observação participantes, listagem livre, entrevista semiestruturada, turnê guiada, coleta e identificação de material botânico. Foram levantadas 98 espécies etnobotânicas, destas foram identificadas 91 espécies de Angiospermas e uma Pteridófita distribuídas em 41 famílias. As cinco famílias com maior representatividade em número de espécies foram Lamiaceae (13 spp.), Asteraceae (4 spp.), Euphorbiaceae (4 spp.), Malvaceae (4 spp.) e Rutaceae (4 spp.) cada. Quanto à origem, verificou-se que 36 (39,1%) espécies eram nativas do Brasil, sendo cinco endêmicas, 34 (36,9%) cultivadas e 18 (19,5%)naturalizadas. Quanto à forma de vida, 30 espécies foram de herbáceas, 28 arbustivas, 26 arbóreas, cinco trepadeiras, dois subarbustos e uma palmeira. As formas de uso citadas incluem banhos, ebós, enfeites, incensos, defumação, sacudimento, oferendas, limpezas, chás, xaropes e usos em rituais secretos. A partir dos resultados encontrados, concluiu-se que os terreiros de candomblé são importantes ambientes para o resgate e valorização da cultura afro religiosa brasileira, além de contribuir para a preservação das plantas.