A colaboração interprofissional se apresenta como uma estratégia fundamental para o trabalho em equipe, especialmente na Estratégia Saúde da Família. Deste modo, este estudo tem como objetivo geral analisar a inserção do profissional médico na Estratégia Saúde da Família (ESF) em um pequeno município do interior da Bahia, à luz dos ideais da Atenção Primária a Saúde (APS) com vistas a superação do modelo biomédico, a partir da visão dos seus membros. Ainda identificar à racionalidade e os saberes que orientam a atuação do profissional médico no cuidado em saúde; descrever a atuação médica enquanto membro na equipe da ESF; e analisar a inserção do médico e as relações interprofissionais que se estabelecem no âmbito da Atenção Primária à Saúde /ESF, com foco nas relações de poder no âmbito das equipes multiprofissionais. Este trabalho é uma investigação de campo, exploratória e qualitativa, do tipo Estudo de Casos, tendo especificamente duas unidades da Estratégia de Saúde da Família como casos. Para a análise dos dados coletados, será empregada a Análise de Conteúdo de Bardin. No qual, como técnica de coletas dos dados, serão utilizadas entrevistas individuais (estruturadas), com o emprego de questionário, impresso e/ou online, com a utilização de perguntas norteadoras no roteiro. Como resultados, diante de todo esse contexto é que surgiram as temáticas: Emergiram, ao final, 02 grandes Categorias Temáticas: 1) Racionalidade: biomédica versus interdisciplinar (ecologia de saberes); 2) Prática médica: uniprofissional versus colaborativa interprofissional e 3) Médico: “centro do poder” versus “membro de equipe multiprofissional.” Diante de todo esse contexto é que surgiram as temáticas: 1) Profissional médico enquanto centro do poder com suas categorias: 7.1 Racionalidade: biomédica versus interdisciplinar (ecologia de saberes) no qual originaram as categorias: 7.1.1 Racionalidade: biomédica com desvalorização de outros saberes e 7.1.2 Racionalidade interdisciplinar (Ecologia de saberes) e relações horizontais. A temática 7.2 Prática médica: monoprofissional versus colaborativa interprofissional, com as categorias: 7.2.1 Trabalho monoprofissional e prática solitária e

7.2.2 Prática colaborativa e trabalho interprofissional. E a temática

7.3 Médico: "centro do poder" versus "membro de equipe multiprofissional" com as categorias: 7.3.1 Médico desenvolvendo trabalho monoprofissional orientado por saberes exclusivamente biomédicos, 7.3.2 Médico desenvolvendo trabalho colaborativo em equipe multiprofissional orientado por múltiplos saberes e 7.3.3 competências colaborativas.

Estudos apontam que a colaboração interprofissional melhora o atendimento ao paciente, em especial, tornando a atenção à saúde da gestante mais segura, efetiva e integral e que a saúde bucal contribui significativamente para qualificar a atenção ao pré-natal oferecido na unidade de saúde. A proposta desse trabalho foi motivada pela necessidade de compreender o trabalho interprofissional e a integralidade do cuidado na equipe de saúde da família na realização do pré-natal. Considerando o pré-natal: numa construção histórica, desde o PAISM até a Rede Cegonha; como prática de cuidado integral à saúde da mulher que pode contribuir nas concepções e práticas interprofissionais na AB; e que pode compor um processo de cuidado mais amplo e múltiplo na ESF e no território, nossa pergunta norteadora foi “de que maneira o processo de trabalho da equipe pode se ajustar para alcançar a integralidade do cuidado a mulher grávida, com incorporação dos cuidados em saúde bucal? ”. Nesse sentido, a pesquisa teve como principal objetivo fortalecer a colaboração interprofissional no pré-natal realizado pela equipe de saúde da família, na USF Zulmira Barros, por meio de um processo avaliativo e da articulação de uma agenda compartilhada das atividades de cuidado, prevenção e promoção da saúde. Trata-se de uma metodologia participativa com uma proposta de intervenção, de caráter qualitativo e exploratório, que propôs explorar o fenômeno do pré-natal a partir da perspectiva das gestantes e da experiência dos profissionais da equipe de saúde da USF Zulmira Barros, relacionando com as questões interpessoais e interprofissionais. O processo de ação-reflexão-ação proposta para esta pesquisa foi estruturada por meio de uma estratégia de oficinas, e a coleta de dados foi realizada através da construção coletiva da matriz swot e da matriz de competências e habilidades durante a 3/3 participação nas oficinas. A população do estudo foi constituída pelas gestantes que realizaram o pré-natal na unidade de saúde nos últimos seis meses e pelos membros da equipe de saúde que manifestaram concordância em participar da pesquisa assinando o TCLE, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. A organização e análise dos dados serviram para a construção de um instrumento de trabalho que pudesse destacar as técnicas relacionais e privilegiar a comunicação transversal entre os componentes da equipe

O acompanhamento pré-natal busca assegurar o desenvolvimento de gestações saudáveis para a mãe e para o bebê, sendo importante a implementação de práticas de educação em saúde como estratégias para qualificar a atenção, ampliar os serviços e reduzir possíveis complicações. A modalidade de atenção por meio de grupos operativos de gestantes como forma de cuidado coletivo é importante na otimização do trabalho, na participação ativa do usuário no processo educativo e no aumento do vínculo com os profissionais, por meio da comunicação, aprendizagem e novas elaborações do conhecimento. O objetivo desse estudo consistiu em analisar as percepções das gestantes sobre as estratégias de cuidado e de educação em saúde nos encontros presenciais e nos grupos operativos remotos no âmbito da APS, com foco nos temas abordados nos grupos; além de identificar e analisar as potencialidades e as fragilidades dos grupos remotos de gestantes no âmbito da APS, com base nos vetores de avaliação do PichonRivière. Trata-se de estudo qualitativo, exploratório e descritivo, que utilizou como referencial teórico a articulação entre a abordagem psicodinâmica baseada na Teoria do Grupos Operativo elaborado pelo médico psiquiatra Enrique Pichon-Rivière e a dimensão educativa, fundamentada na pedagogia do Educador Paulo Freire. Foram realizadas entrevistas com 9 gestantes que fizeram acompanhamento pré-natal em duas unidades de saúde da rede pública de Ilhéus (BA). Para a análise dos relatos foram utilizados procedimentos de análise de conteúdo de Bardin. Como resultados destacaram-se as categorias “Ações de cuidado e educação em saúde na APS”, “Comunicação” e “Aprendizagem”. 3/5 Entre as principais conclusões, pode-se destacar a importância do acesso à assistência pré-natal com ênfase para uma aproximação nas relações entre profissionais e gestantes com o diálogo como base. O grupo de gestantes se constituiu de importante espaço para realização da educação em saúde e possibilita o compartilhamento de experiências e construção do conhecimento condizente com as necessidades, possibilidades e potencialidades na construção de vínculos, esclarecimento de dúvidas e promoção da autonomia das gestantes. Foram apontadas fragilidades em relação ao acesso a exames necessários durante o período gestacional e a necessidade de maior adesão das gestantes aos grupos. Identificou-se ainda uma demanda por mais informações sobre temas associados à gestação, em particular ao plano de parto, direito ao acompanhante e direitos trabalhistas das gestantes.

No modelo de atenção psicossocial, o cuidado propõe um itinerário terapêutico que leve em conta a construção histórica do sujeito e sua relação com o território, além de práticas de cuidado integral. As percepções do cuidado em saúde mental no contexto da saúde da família, identificadas na literatura, proporcionam a necessidade de repensar a humanização do cuidar, a integralidade, a universalidade e a garantia de equidade. Apesar da existência de movimentos no campo da saúde na tentativa de implementação desta nova forma de pensar, observam-se entraves para se concretizar uma atenção digna e integral. Tais entraves estão relacionados à comunicação inadequada entre profissionais dos serviços da rede de atenção, à prevalência de assistência pautada na medicalização, à fragmentação do cuidado, à fragilidade no processo de matriciamento, à falta de capacitação dos profissionais e a dificuldades referentes à formação desses profissionais pautada no saber biomédico. Neste sentido, a defesa da ampliação das ofertas terapêuticas das equipes com ferramentas psicossociais, bem como da capacitação dos profissionais de saúde para disseminar ações em saúde mental visa a estimular a construção de fluxos e projetos terapêuticos mais eficazes em consonância com outros serviços da rede de saúde. Este é um caminho para se alcançar o cuidado e a promoção de saúde mental no contexto da Saúde da Família e de forma integrada à rede de assistência dentro da proposta da Reforma Psiquiátrica brasileira. Nas palavras de Saraceno (1996), é importante a compreensão do cuidado em saúde enquanto reconhecimento do sujeito além da sua doença, na perspectiva dos significados singulares dos seus sofrimentos mentais e físicos e de seus processos de vida como um todo, em todos os cenários por ele ocupados (serviço/casa/comunidade). A Saúde Mental (SM) na Atenção Básica (AB) enfrenta grandes desafios em seu cotidiano. Dentre eles, destacam-se aqueles relacionados aos trabalhadores de saúde para agregar resolutividade às ações de saúde mental desenvolvidas no âmbito da Atenção Primária, como a pouca valorização do ato de "escutar" em consultas corriqueiras. O presente projeto de pesquisa se propõe a analisar os sentidos da produção de cuidado em saúde mental no contexto da Estratégia de Saúde da Família (ESF) e as reorientações das práticas no serviço, tendo como base o construcionismo social, segundo a Psicologia Social de Mary Jane Spink .Participaram do estudo profissionais dos serviços especializados de saúde mental ( Centros de Atenção Biopsicossocial e Ambulatório) e profissionais do territórios de abrangência de ESF´s, no município de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. A coleta de dados ocorreu no mês de julho de 2020 a março de 2021. Utilizou-se a técnica de entrevista semiestruturada, em situação metapresencial, mediante consentimento dos participantes assinando o TCLE. O roteiro foi elaborado e testado previamente para esse fim - tendo como base o referencial teórico do Construcionismo Social; os repertórios interpretativos encontrados no levantamento bibliográfico da temática; e as escalas validadas - Escala de Avaliação do Impacto do Trabalho em Serviços de Saúde Mental (IMPACTO-BR) e Escala de Avaliação da Satisfação dos familiares com os serviços de Saúde Mental (SATIS-BR) (BANDEIRA, PITTA & MERCIER, 2000, p. 105-115). Os conteúdos dos diálogos foram analisados a partir da identificação dos repertórios interpretativos dos conteúdos das falas e seu entrelaçamento com a literatura investigada e a interpretação das pesquisadoras. Observou-se que esta pesquisa proporcionou duas linhas principais de categorias. A primeira voltada para os sentidos acerca da conceitualização dos processos de cuidado em saúde mental em sua integralidade: “Os sentidos dos processos de cuidado em saúde mental”. Temática esta que possibilitou iniciar a reflexão da segunda linha de sentidos voltados para o objetivo principal da pesquisa: “Os sentidos das práticas de cuidado em saúde mental no contexto da Estratégia de Saúde da Família”. A análise destas categorias, permitiram a reflexão que o processo de consolidação da assistência no SUS deve ocorrer pelo fortalecimento do cuidado a partir da escuta dialógica entre os profissionais e a comunidade.Visto que, a promoção de saúde mental privilegia o cuidado centrado na pessoa e na comunidade e a atenção aos sentidos atribuídos pelos sujeitos aos seus processos de saúde; ou seja, ela trata das emoções, percepções e sentidos do cotidiano e, consequentemente, fortalece ações de promoção da saúde integral aos sujeitos.

A formação médica no Brasil está passando por mudanças significativas para atender às demandas da sociedade brasileira e do Sistema Único de Saúde (SUS). A Atenção Primária à Saúde (APS) deve ser a porta de entrada para o SUS, e, é aí que se espera que aproximadamente 80% dos problemas de saúde sejam resolvidos. É importante, portanto, que haja profissionais nas Unidades de Saúde da Família (USF) com ampla educação nesse campo de ação. Apesar da reestruturação da educação médica, motivada pelas novas diretrizes curriculares de 2014, pouco se encontra na literatura sobre as mudanças e impactos na educação e as experiências sobre a APS como campo de prática. Por esse motivo, o objetivo deste artigo é comparar os Programas de Residências Médicas em Medicina da Família e Comunidade (PRMMFC), no contexto do redesenho da educação médica e da reorientação de seus cenários de prática trazidos pela restauração curricular e pelo Programa Mais Médicos, em Salvador - Bahia. Será desenvolvido um estudo, com abordagem qualitativa seguindo, para observar diretamente cada PRMMFC por meio de oficinas realizadas com os supervisores de cada programa. A 3/3 entrevista, semelhante a uma oficina, será realizada para a sistematização das potencialidades e fragilidades que influenciam o alcance das metas de residências nas redes de serviços da APS municipal, através da criação de uma matriz SWOT (acrônimo para Strengths, Weaknesses, Opportunities e Threat) de cada programa. Além disso, será realizada uma análise documental, com base nas diretrizes disponíveis, a fim de criar linhas históricas da criação dos programas na Bahia nos últimos dez anos, para entender o reflexo das políticas públicas de incentivo à formação de novos profissionais, especialistas, que pode atender às necessidades do SUS. Da mesma forma, uma pesquisa documental será realizada para fornecer entendimento dos cinco programas de residência em medicina da família e comunidade (MFC) na cidade de Salvador em 2020. Os resultados, portanto, indicarão em que cenário as residências na MFC em Salvador são e quais são as relações com outras situações vivenciadas e descritas na literatura. Por fim, este artigo apontará os impactos que as políticas públicas trouxeram para a melhoria do profissional médico nesta especialidade.

Os territórios em saúde transcendem demarcações espaciais, geográficas e ambientais que são espaços vivos permeados por condicionantes e determinantes culturais, econômicos, políticos, sociais e sanitários. A análise territorial necessita de informações que reflitam a realidade das populações, favorecendo a operacionalização de decisões e de ações sociais, além de políticas públicas estratégicas. Esses territórios dinâmicos acolhem populações tradicionais como as ribeirinhas, cuja identidade coletiva resulta de décadas de construção. Faz-se necessário entender essas populações como sujeitos de direitos, sobretudo no tocante aos serviços públicos considerados como essenciais para uma vida digna. A Atenção Primária à Saúde deve desempenhar o papel de acolhimento das demandas dessas populações, favorecendo o acesso à saúde e minimizando problemas ocasionados pela ineficiência de políticas públicas nessas regiões. O Objetivo da pesquisa é realizar uma análise situacional e entender como se dá o acesso das comunidades aos serviços da Atenção Primária em sete comunidades ribeirinhas no Vale do Rio de Ondas, localizadas na região Oeste da Bahia, no município de Barreiras. A pesquisa foi orientada pelo Inventário SócioDemográfico (ISD), instrumento de coleta que facilita o contato e a construção de relações entre o pesquisador e a comunidade. A coleta de dados ocorreu por meio de entrevistas semiestruturadas com moradores e atores chaves de sete comunidades ribeirinhas. A ênfase da pesquisa se deu sobre: o histórico das comunidades, acessibilidade geográfica, condições de moradia, saneamento básico, lideranças comunitárias, educação, religiosidade e saúde mental das populações ribeirinhas em período de pandemia. Assim, foi possível conhecer os condicionantes locais, contribuir para o fortalecimento das identidades das populações que habitam os territórios e sensibilizar gestores e poderes públicos da necessidade de implantação de uma Unidade de Saúde na região e melhorias na 3/3 qualidade do acesso aos serviços públicos que interferem na saúde física e mental da população.

No processo de trabalho de uma equipe de saúde da família o acolhimento é fundamental para organização dos serviços, favorecendo maior acesso aos usuários, escuta qualificada e direcionamento adequado dos problemas. Esta pesquisa teve por objetivo analisar o acolhimento aos usuários da atenção básica de um município no estado da Bahia, compreendendo as facilidades e dificuldades existentes nesse processo a partir das percepções dos profissionais de saúde e dos usuários. A pesquisa teve um caráter descritivo e exploratório com abordagem qualitativa. Em relação ao procedimento técnico foi realizado um estudo de campo em que houve uma observação direta das atividades dos grupos estudados e de entrevistas com informantes para captar suas percepções sobre o processo analisado. Num primeiro momento, foi realizado um estudo bibliográfico sobre conceitos como acolhimento, humanização, vulnerabilidades, Estratégia de Saúde da Família, Atenção Primária em Saúde, processo de trabalho e participação social, bem como a análise dos documentos municipais sobre o acolhimento em saúde. Posteriormente, a observação sistemática e a aplicação de dois roteiros de entrevistas semiestruturadas com os profissionais de saúde e usuários. Esta trabalho não buscou esgotar o assunto, mas entender o acolhimento no processo de trabalho, alertando para suas fragilidades no atendimento e na satisfação do usuário e melhoria dos referidos serviços.

O envelhecimento populacional tem trazido novos desafios aos sistemas de saúde. A presença de condições crônicas, acompanhadas de multimorbidade, fragilidade e incapacidade funcional em parte considerável dessa população idosa tem limitado o acesso oportuno e continuado desses indivíduos aos serviços de saúde ou mesmo restringindo-os ao domicílio. O cuidado aos idosos domiciliados, assim, tende a ser episódico e fragmentado, aumentando o risco de iatrogenia. As equipes de Saúde da Família atuam próximo às comunidades onde vivem esses idosos, tendo a possibilidade de ofertar continuidade e coordenação de cuidados a partir do domicílio, mas tem dificuldade em reconhecer as características e necessidades desse grupo populacional vulnerável e em como se reorganizar para a prestação desse cuidado. Desse modo, tornam-se relevantes estudos que busquem caracterizar quais são as vulnerabilidades e as necessidades em saúde desse grupo populacional e como se organiza o cuidado para esses indivíduos. Este estudo parte do referencial teórico da Teoria do Déficit do Autocuidado de Dorothea Orem para buscar melhor compreender tais necessidades de cuidado, assim como os arranjos assistenciais para atendê-los por parte das equipes de Saúde da Família.

O Brasil e vários países do mundo têm experimentado mudanças em sua estrutura demográfica e, também, na percepção que os idosos têm sobre o envelhecimento, a velhice e a qualidade de vida. Importante ressaltar que o processo de envelhecimento tem suas peculiaridades e sofre influências diversas que permeiam os conceitos e debates sobre o tema. Estudos apontam que o ambiente que o idoso reside é fator determinante para tais percepções e, embora a maioria da população idosa no Brasil resida na área urbana, tem-se a preocupação com o processo de envelhecimento na zona rural. Neste sentido, o objetivo do presente estudo é entender as percepções sociais da população idosa, residente da zona rural, sobre o processo de envelhecimento, suas vivências e experiências na comunidade e o entendimento sobre o processo saúde/doença/cuidado. O cenário da pesquisa foi o município de Alcobaça, localizado no extremo sul da Bahia, que possui 50% de sua população residente em área rural. A abordagem do presente estudo foi quali-quantitativo e seguiu um modelo metodológico descritivo e exploratório. Foram realizadas 11 entrevistas, seguindo um roteiro de perguntas abertas e fechadas, e aplicação de questionário sobre qualidade de vida da OMS. Os resultados indicaram como faixa etária predominante entre 60-69 anos de idade (45,5%), pertencentes ao gênero feminino (72,2%) e 54,5% casados. A maioria dos entrevistados é aposentada (91%), com renda mensal de 1 a 2 salários mínimos, mas se mantém ativa por meio das tarefas domésticas e das atividades na agriculta familiar. Os resultados mostram a influência da religiosidade, das relações familiares e sociais no contexto rural e a forte ligação com o bem-estar físico e emocional e com a qualidade de vida. A manutenção das atividades laborativas se apresenta como práticas positivas e comuns aos idosos, perfazendo um sentimento de pertencimento no seu local de moradia. Diante dos dados coletados, buscou-se descrever um cenário de cuidado e vivência destes idosos, visando entender o sentido da velhice no meio rural, privilegiando a percepção do idoso sobre condições de saúde e envelhecimento, com base nos modos de vida e suas subjetividades.

A graduação em medicina, uma das mais almejadas e concorridas no Brasil, se apresenta tomada por um imaginário de status social e estabilidade financeira. Ser aprovado em um curso de medicina significa, para muitos jovens e suas famílias, a garantia de um futuro próspero e promissor. Essa projeção de um sonho quanto à carreira que irá seguir pode conflitar com a formação e os anos de estudo árduo e estressante -- sobrecarga de leitura, dificuldade na administração do tempo, pouco lazer, responsabilidade e expectativas sociais em relação ao papel do médico na sociedade -- condições que predispõem à perda da qualidade de vida, sofrimento e desenvolvimento de transtornos mentais entre os estudantes. Mudanças curriculares, adoção de metodologias ativas de aprendizagem, além de ações de promoção, prevenção e suporte ao aluno em sofrimento, parecem favorecer o desenvolvimento de um cenário mais acolhedor na escola médica. Muitas universidades vêm apoiando esse movimento, com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Medicina (DCNs). O presente estudo buscou identificar, por meio da autopercepção dos alunos do curso de Medicina da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), no sul da Bahia, a existência de sofrimento mental e eventos estressores desencadeados após o ingresso no curso, buscando realizar uma discussão com os relatos dos professores. O direcionamento metodológico foi de estudo de caso, por meio de pesquisa qualitativa. Os dados foram obtidos com aplicação de questionários digitais semiestruturados à uma amostra intencional de 45 discentes e 10 docentes inseridos do 1º ao 6º ano, e analisados na perspectiva da Análise de Discurso (codificação dos eixos analíticos e agrupamento de dados). A pesquisa está de acordo com aspectos éticos da Resolução 466 de 2012, e foi aprovada pelo comitê de ética e pesquisa. Observou-se que 75% dos participantes consideram apresentar algum tipo de transtorno mental; quase 40% refere ter adoecido após o ingresso no curso médico, sendo que metade destes alunos atribuem o adoecimento a eventos estressores advindos da graduação, como excesso de exigências de estudo, ausência de atividades de lazer, e atitudes docentes por vezes abusivas. A grande maioria dos professores percebe a situação e demonstra não receber apoio institucional para abordagem e suporte ao aluno. As narrativas discentes apontam fragilidades estruturais do curso e dificuldades na adaptação ao método da Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) como possíveis fatores estressores, fato que em geral, diverge da literatura que trabalha com o tema. Conclui-se que o sofrimento mental está presente entre os alunos de medicina da UESC; percebe-se que além das causas frequentemente atribuídas ao sofrimento em outros estudos, a atual estrutura e organização do curso tende a exercer algum impacto negativo no nível de estresse dos alunos; evidencia-se a necessidade de desenvolvimento de espaços reflexivos e democráticos que favoreçam a comunicação entre coordenação do curso, docentes e discentes, visando o planejamento de ações de promoção da saúde mental do aluno.

Após um século e meio de avanços tecnológicos consideráveis em todas as áreas, inclusive no setor da saúde, a indústria biomédica tornou-se um ator poderoso no campo da atenção à saúde, onde seus produtos são utilizados em excesso, relegando o vínculo terapêutico ao segundo plano no processo de trabalho. A prevenção quaternária (P4) se insere em um contexto onde há uma hiperutilização de tecnologias duras, contribuindo para os altos índices de morbimortalidade decorrentes da realização de procedimentos desnecessários. A P4 foi desenvolvida por Marc Jamoulle, em 1986, para prevenir eventos adversos e proteger os pacientes de intervenções médicas desnecessárias, integrando uma abordagem de saúde pública com a clínica individual. Para isso, propôs outras alternativas do ponto de vista terapêutico e ético. Este estudo teve como objetivo o aprofundamento, de forma sistematizada, do conceito da Prevenção Quaternária. O segundo objetivo buscou delinear a importância do ensino médico no contexto específico da P4. Inicialmente, os autores efetuaram uma revisão sistemática (RS) da produção científica publicada até agosto de 2018, analisou-a qualitativamente e sob uma perspectiva bibliométrica. Após esta etapa, foi realizada uma revisão da literatura sobre a história do ensino médico, destacando marcos históricos e epistemológicos que poderiam estar relacionados com o contexto de sobremedicalização atual. 65 artigos foram incluídos na RS. Estes apontaram elementos conceituais, linguísticos, geográficos, bem como do tipo de sistema de saúde vigente no país do autor ou de conferências da WONCA que afetaram a produção científica relativa à P4. Pôde-se destacar os autores brasileiros e uruguaios como líderes nas publicações. O método mais utilizado foi a revisão bibliográfica e os temas mais abordados foram: o processo de sobremedicalização, exemplos e estratégias de enfrentamento a sobremedicalização. Na segunda etapa da pesquisa observou-se que a iatrogenia já estava presente nas premissas da medicina ocidental, na Grécia Antiga, e apontou-se a educação médica como potencial estratégia para combater os excessos da medicina. Neste sentido, a mesma seria capaz de fomentar uma visão prática e crítica sobre a medicina, por exemplo, através: de discussões sobre as potencialidades e limitações da medicina baseada em evidências (MBE), do desenvolvimento das habilidades de comunicação, do fortalecimento do cuidado longitudinal e da bioética. Estes são caminhos que poderiam impactar o número de procedimentos iatrogênicos. Atualmente, a literatura disponível é ainda insuficiente para avaliar a relevância da P4 para a saúde pública. Entretanto, a reunião da literatura dedicada à sobremedicalização e à P4 poderia aumentar o volume da produção científica e representar uma saída para este impasse. Nesta perspectiva, a educação médica representa uma ferramenta de alto potencial e de baixo custo para implementar a P4 e avaliar os seus impactos sobre as práticas e os indicadores de saúde.

No setor saúde, a informação deve ser compreendida como um redutor de incertezas, um instrumento capaz de detectar focos prioritários de atenção, atuando como subsídio fundamental no processo de tomada de decisão. Os Sistemas de Informação em Saúde (SIS) servem para organização dos dados, propiciam a avaliação permanente das ações realizadas e situação de saúde. Nesse contexto, o presente estudo tem por objetivo geral avaliar junto às equipes de saúde da família a qualidade da produção e uso de informações no Planejamento e gestão das ações, considerando os principais Sistemas de Informação em Saúde existentes. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Inicialmente, foi realizada uma pesquisa exploratória e descritiva de natureza qualitativa, por meio de pesquisa documental sobre os sistemas de informação em saúde mais utilizados na atenção básica. Depois, através do questionário eletrônico, estruturado com nove questões fechadas e uma aberta, verificou-se que a maioria dos profissionais conhecem os SIS da atenção básica, porém, acessam com pouca frequência, não se sentem capacitados para usa-los e acham que as funcionalidades contribuem pouco para os processos de trabalho. Pode-se afirmar que, apesar dos diversos avanços, ainda é necessário a superação das limitações da informação em saúde, mas a reestruturação dos SIS depende consideravelmente do envolvimento dos gestores, dos profissionais de saúde e dos trabalhadores do SUS na implantação, utilização e aprimoramento contínuo do SISAB e da estratégia e-SUS AB. A partir da análise das questões abertas, foram propostas novas funcionalidades para o e-SUS, agendamento de retorno automatizado, sistemas de alarmes para os usuários e interoperabilidade dentre os diversos SIS da AB.