Participação e deliberação na esfera pública: um olhar sobre a efetividade do Conselho Municipal da Cidade de Porto Seguro
Controle social. Participação institucionalizada. Conselhos municipais. Política de desenvolvimento urbano. Porto Seguro. Extremo Sul da Bahia.
Os conselhos de políticas públicas representaram uma das maiores inovações no campo participativo brasileiro após a Constituição Federal de 1988 e tiveram seu maior período de expansão entre 1990 e 2010. Os conselhos, que já vinham recebendo críticas quanto à sua capacidade de intervir nas políticas públicas, passaram a conviver a partir da ruptura democrática ocorrida em 2016, com o desmonte da Política Nacional de Participação Social e seus efeitos nefastos para o exercício do controle social nos demais níveis de governo. Assim, esta pesquisa consistiu em verificar a efetividade deliberativa do Conselho Municipal da Cidade de Porto Seguro (CONCIDADE) em relação às suas finalidades institucionais de debater, formular, deliberar, monitorar e avaliar as políticas de desenvolvimento urbano locais. Para tanto, foram utilizados, em conjunto, o modelo de análise do desenho institucional, preconizado por Cláudia Faria e Uriela Ribeiro, além do modelo da qualidade deliberativa, de Débora Almeida e Eleonora Cunha. Como referências teóricas, as doutrinas de democracia deliberativa e de esfera pública, defendidas por Jürgen Habermas, bem como as adequações da esfera pública ao contexto brasileiro propostas por Leonardo Avritzer e Sérgio Costa. Para alcançar os objetivos, foram realizadas: análise documental das normas de criação e organização do conselho; a sistematização das atas de reunião do período de 2019 até 2020; a aplicação de entrevistas semiestruturadas e de um formulário com questões fechadas (em sua maioria), aos/às conselheiros/as do CONCIDADE em 2020. Como resultado desse levantamento de dados primários, a abordagem da análise do desenho institucional revelou graus médios de democratização e de institucionalização e um baixo grau de representação no conselho. Já a abordagem da qualidade do processo deliberativo apontou baixo grau de efetividade deliberativa, o que indica que o conselho possui reduzida capacidade de influenciar, controlar e decidir sobre a politica de desenvolvimento urbano de Porto Seguro. O modelo da qualidade do processo deliberativo demonstrou, ainda, que a teoria democrática deliberativa oferece sólidos elementos para a análise dos conselhos como a utilização dos princípios da publicidade, da pluralidade e da igualdade deliberativa. Entretanto, os resultados apresentados apontam que o CONCIDADE distancia-se, até mesmo, da esfera pública nos moldes habermasianos, porquanto não revela a presença, de modo satisfatório, dos elementos necessários ao exercício do livre debate.