Alegorias do Descobrimento: Tempo Histórico, Comemoração e Patrimônio em ‘Sob os céus de Porto Seguro’ (1939).
Descobrimento, tempo histórico, comemoração, patrimônio, Porto Seguro.
Este trabalho pretende se enveredar pelo campo de uma história do tempo histórico no Brasil. Para tanto, selecionar-se-á uma série de acontecimentos e narrativas que compõem algumas ações de “celebração aos 439 anos do Brasil” que tiveram por cenário a paisagem histórica do litoral sul da Bahia, particularmente o município de Porto Seguro, com o objetivo de realizar uma história dos usos sociais e políticos da história do “Descobrimento do Brasil”. Tendo como conteúdo práticas e discursos que de algum modo tanto interpretaram como inventaram uma experiência histórica brasileira a partir das repetições de seu mito fundador. Nosso objeto de pesquisa é o “Raid” de 1939 à cidade de Porto Seguro como comemoração das Asas do Brasil Novo à data do Descobrimento. São as reativações desse acontecimento com seus discursos e práticas que atuam na configuração de narrativas da experiência histórica brasileira que investigamos. Busca-se conhecer as formas e conteúdos dessas teatralizações da história. O “Descobrimento do Brasil” torna-se, desta forma, um tema articulador de diferentes questões. Sua abordagem se dará por meio da investigação de dois fenômenos que estão relacionados e que tem por fundo uma problemática comum relativa ao tempo histórico. Esses fenômenos são: as ações de comemoração do Descobrimento do Brasil; e os processos de patrimonialização dessa história que tiveram lugar na cidade de Porto Seguro e região. Nesse sentido o “descobrimento” se torna o conceito chave com o qual se relacionam o quadro conceitual que aborda os significados e usos de “comemoração” e “patrimônio” como elementos de uma experiência histórica e como estratégias de invenção de uma memória e história nacionais. Trata-se de abordar o “Descobrimento do Brasil” em sua materialidade e repetição, ou seja, analisar como o acontecimento da chegada da esquadra comandada por Cabral em 1500 é desdobrado em apropriações diversas. Objetiva-se problematizar os usos sociais e políticos dessa história enquanto “operações de ritualização cultural” em momentos de “teatralizações do poder”. Nesse sentido, pretende-se investigar “qual o papel dos ritos e comemorações na renovação da hegemonia política”. Aliando a essas questões uma reflexão sobre a historicidade dos processos de patrimonialização de Porto Seguro, o qual seria justificado por meio da atribuição de valor histórico que se alimenta e se reveste dos acontecimentos e narrativas do “descobrimento”. As repetições deste mito fundador tornam-se, assim, objeto de investigação das formas como as forças sociais e políticas reinventam o passado e dos meios que os utiliza para legitimar o presente e projetar o futuro.