ESCREVIVÊNCIAS: UMA JORNADA PELO TEATRO NEGRO DE ABDIAS NASCIMENTO NO EXTREMO SUL DA BAHIA.
Teatro Negro. Abdias Nascimento. Escrevivências. Teatro Negro no Extremo Sul da Bahia.
Esta pesquisa, que toma como base o Teatro Experimental do Negro (TEN) e a obra de Abdias Nascimento, se propõe a rememorar, sistematizar e contar as experiências teatrais do Extremo Sul da Bahia de aplicação da abordagem teatral fundada pelo TEN e, particularmente apresentar a experiência de intervenção político-étnico-racial-pedagógica por meio da performance teatral Padê de Exú Libertador. O trabalho de Abdias Nascimento realizado por meio do TEN, desafiou o racismo e o mito da democracia racial brasileiros e logrou conceber uma estética negra no teatro que influenciou a construção da identidade negra nacional e da cultura brasileira como um todo. O TEN, formado por um elenco de atrizes e atores negros, encenou diversas peças teatrais que se caracterizam como um pioneirismo histórico no campo do audiovisual negro. Por meio de uma abordagem inovadora, o TEN denunciou as diversas formas de racismo vivenciados pelas pessoas negras ao mesmo tempo em que oportunizou o debate e a afirmação de uma identidade negra brasileira. Essa metodologia para além de contribuir para a formulação e desenvolvimento das peças teatrais funcionou como uma chave emancipatória nas vidas de muitos jovens atores e atrizes que participaram de companhias teatrais com trabalhos fundados na abordagem do TEN. Nesta pesquisa, a hipótese com a qual trabalhamos é que a proposição de um teatro que se propõe a refletir positivamente os valores da cultura negro-brasileira e a valorização dessas identidades negras podem influenciar de forma positiva nos processos emancipatórios de jovens negras e negros da periferia da cidade de Eunápolis e cidades do extremo sul da Bahia. Metodologicamente a pesquisa se alicerça no método de Escrevivência da escritora Conceição Evaristo, a partir da qual mobiliza memórias e práxis vividas pela pesquisadora e por outros sujeitos que participaram da investigação. Da mesma forma, esse trabalho pode ser considerado como uma viagem autoetnográfica, nos moldes de Pedro Motta e Nelson Barros. O trabalho de campo foi realizado por meio de entrevistas captadas audiovisualmente, oficinas teatrais e encenação que resultaram num documentário. No presente trabalho, inicialmente apresento a obra de Abdias do Nascimento e o trabalho desenvolvido pelo TEN. Em seguida escrevivencio a experiência de fazer teatro negro no Extremos Sul da Bahia por meio de histórias pessoais e coletivas de encenação de peças, projetos e performances teatrais. Por meio de minha atuação como atriz e palhaça compartilho a minha experiência de realização de oficinas com base na metodologia Fazer Fazendo com jovens negros e negras da periferia de Eunápolis; depois, a partir de um registro audiovisual documental, apresento a experiência da companhia Umbandaum; por fim apresento a experiência de realização de oficinas e discussão sobre a temática racial com base na abordagem do TEN para o desenvolvimento da performance teatral Padê de Exu Libertador. Como resultado, a pesquisa logrou identificar a contribuição da abordagem do TEN para questionar o racismo e para fortalecer a autoestima racial dos jovens envolvidos, assim como contribuiu para dar visibilidade ao teatro negro no Extremo Sul da Bahia. O trabalho deixa como legado para a comunidade local o documentário intitulado “Caminhos: uma jornada pelo teatro negro de Abdias Nascimento”.