MEMÓRIAS DE UM CONTAR E DE UM OUVIR: A NARRATIVA ORAL DOS MAIS VELHOS DO QUILOMBO ÁGUA PRETA DE CIMA (MG) COMO INSTRUMENTO DE AFIRMAÇÃO DO PERTENCIMENTO NEGRO QUILOMBOLA
Palavras-chaves: Narrativas orais; escrevivência comunitária; pertencimento e memória; comunidade quilombola Água Preta de Cima.
O presente estudo pretende refletir sobre as narrativas orais dos mais velhos da comunidade quilombola Água Preta de Cima (MG), examinando o trabalho de memória que as engendra como legado de uma tradição. Compreende-se neste trabalho que os corpos-contantes se alinham às tessituras do tempo da comunidade enquanto guardiões dos saberes pertencentes ao quilombo. As narrativas orais têm o poder de produzir experiências a partir de outras experiências, de outros momentos e de outras vidas, com saberes que atravessam os limites do imaginário de cada pessoa ou povo. Nesse sentido, este estudo procura evidenciar, registrar e dialogar com os ensinamentos que se costuram nas narrativas orais dos mais velhos a fim de traçar o caminho de pertencimento no quilombo Água Preta de Cima. Nessa direção, almeja-se apreender suas narrativas de vida, o que pode ser considerado como escrevivência comunitária, e de que maneira o contar e o ouvir se afasta de um simples gesto pragmático de comunicação e adquire uma dimensão performática, vinculada, por sua vez, à sabedoria e da herança ancestral negra quilombola da própria comunidade. As informações tecidas dos encontros com os corpos-contantes serviram de aporte para a produção do documentário “Memórias de um contar e de um ouvir: Grafias e Romarias”, no qual buscou-se compreender, a partir de um olhar poético e de pertença, as memórias de fé do quilombo, tendo como principal ponto de partida as narrativas que envolvem as lembranças e ensinamentos de Seu Dódó, uma liderança importante para a história da comunidade. O que esse povo tem a dizer sobre suas travessias rezadas e ou banhadas pelas águas pretas de cima é um convite a mergulhar nos modos de vida, expressões, linguagens, maneiras de ser e existir, aprendizados, sonhos, expectativas do quilombo, como de quem conta e de quem ouve. O estudo dialoga com os ensinamentos dos mais velhos da comunidade e, como base teórica, apoia-se, principalmente, em Bâ (2010), Bosi (2004), Evaristo (2017), Hall (2007), Halbwachs (1990), Benjamim (1986), Machado (2019), Nascimento (2018) e Martins (2003).