VOZES QUE ECOAM: MEMÓRIAS E NARRATIVAS DE MULHERES ASSENTADAS EM MUCURI-BA
Feminismos, História Oral, Memória, Mulheres Assentadas, MST.
O presente trabalho se inscreve no debate sobre Memória, História Oral, Feminismos não hegemônicos e nas intersecções das relações étnico-raciais, de gênero e de classe. Desenvolvemos através de um processo de Observação Participante (Minayo, 2007), leituras e entrevistas que acolheram as diversas nuances das realidades de mulheres assentadas na cidade de Mucuri-BA, especificamente nos Assentamentos Paulo Freire, Zumbi dos Palmares, Quilombo I e Quilombo II. Emergente de observações e inquietações despontadas na experiência como educadora no contexto da Educação do Campo, compreendemos a relevância das vozes dessas mulheres campesinas tanto para a micro como para a macro História, disseminando suas memórias e narrativas a fim de que estas se constituam enquanto fonte de História Oral, principalmente como processo de reconhecimento e afirmação de suas múltiplas identidades. Dada a força da oralidade como instrumento epistemológico e metodológico, identificamos as trajetórias, lutas e memórias daquelas que foram amplamente silenciadas e marginalizadas tanto na sociedade como na historiografia. As reflexões construídas foram embasadas em teorias que acentuam a integração da História, da Memória e da História Oral, tal como difundidas pelos autores Le Goff, (2013); Pollak (1989) e Portelli (2016), assim como daquelas que se propõem feministas e decoloniais, a partir de autoras como Cusicanqui (1987), Lugones (2014), Verges (2020), bell hooks (2013; 2018) e Lélia Gonzalez (2020) a fim de questionar as formas tradicionais de construção de conhecimento e propor uma perspectiva de mundo que transgrida o modelo classista, racista e machista da sociedade atual. O resultado educacional concebido por essa pesquisa foi a criação de um Museu virtual intitulado “Vozes que Ecoam”, um espaço virtual que abriga um acervo fonográfico digital contendo as narrativas de vida de mulheres assentadas em Mucuri-BA, compartilhando, assim, saberes, afetos e práticas dissidentes como outras possibilidades de fazer e escrever a História. De modo geral, compreendemos que promover uma intervenção que acolha e compartilhe as narrativas dessas mulheres assentadas é afirmar a transformação que almejamos para este mundo.