Monitoramento da biogeoquímica fluvial em uma microbacia hidrográfica costeira: Estudo de Caso do Rio Cumuruxatiba, Prado-BA
biogeoquímica fluvial; qualidade da água; uso da terra; represas e impactos ambientais; macrófitas aquáticas.
A dinâmica de uso da terra, marcada pela substituição de áreas de floresta por atividades como pecuária, agricultura e construção de represas, tem contribuído para a redução do fluxo hídrico, o aumento da temperatura local e a alteração de nascentes e cabeceiras de rios, podendo levar ao assoreamento dos cursos d’água. Nesse contexto, a compreensão dos ciclos biogeoquímicos é essencial para avaliar os impactos dessas intervenções, especialmente no que se refere à construção de barragens, que podem modificar significativamente os fluxos de nutrientes e sedimentos, afetando a qualidade da água e a biodiversidade. O objetivo desta pesquisa foi caracterizar a biogeoquímica fluvial do rio Cumuruxatiba, no extremo sul da Bahia, analisando a composição química das águas superficiais em diferentes trechos do curso do rio e avaliando os efeitos da presença de uma represa e das macrófitas aquáticas sobre os processos biogeoquímicos. A área de estudo está situada entre duas Unidades de Conservação (UCs) da Mata Atlântica: o Parque Nacional do Descobrimento e a Reserva Extrativista do Corumbau. As coletas foram realizadas entre abril e dezembro de 2024 e em fevereiro de 2025, em três pontos ao longo do rio Cumuruxatiba: P1 (Aldeia Pequi – zona rural), P2 (Condomínio – área urbana) e P3 (Represa – área urbana). No campo, foram medidos parâmetros físico-químicos (pH, temperatura, condutividade elétrica e oxigênio dissolvido), e no laboratório foram analisados sólidos suspensos totais (SST), clorofila a, Escherichia coli e concentrações de NH₄⁺, NO₃⁻ e PO₄³⁻. Os dados foram submetidos a análises estatísticas multivariadas, incluindo Análise de Componentes Principais (PCA) e Análise de Agrupamento (Cluster). A PCA revelou que os principais fatores que influenciam a hidroquímica da microbacia estão relacionados à mineralização, à carga orgânica e à presença de fontes difusas de poluição, como a agricultura e a expansão urbana. A análise de cluster diferenciou o ponto P1 dos demais, indicando melhores condições de qualidade da água nesse trecho. A aplicação do Índice de Qualidade da Água (IQA) classificou o ponto P1 como de qualidade “boa”, enquanto os pontos P2 e P3 foram classificados como “regulares”, com tendência de degradação. Os resultados indicam que a presença da represa compromete os processos naturais de autodepuração e favorece o acúmulo de matéria orgânica a jusante, evidenciado pela redução nos níveis de oxigênio dissolvido e pelo aumento nas concentrações de E. coli, SST e nitrogênio amoniacal. As macrófitas aquáticas também desempenharam papel relevante na dinâmica biogeoquímica, atuando simultaneamente como biofiltros e como agentes potencializadores da eutrofização. O monitoramento realizado forneceu dados inéditos sobre a biogeoquímica fluvial do rio Cumuruxatiba, contribuindo para o diagnóstico ambiental da região e subsidiando futuras ações de conservação e gestão dos recursos hídricos locais