Prevenção e Controle da Covid-19: percepções e práticas da população dos territórios de abrangência da APS sobre o enfrentamento à pandemia em um município do Sul da Bahia

Covid-19; Atenção Primária à Saúde; Conhecimentos, Atitudes e Prática em Saúde

: O surgimento de um novo Coronavírus em 2019 gerou inúmeras preocupações no mundo devido a sua rápida disseminação. Inicialmente, os conhecimentos sobre a doença eram escassos, mas com o transcorrer da pandemia foram se multiplicando junto às crenças e fake news. A Organização Mundial da Saúde fez alertas sobre a gravidade do SARS-CoV-2 e sobre a necessidade de intervenções. Entretanto, a complexidade da pandemia produziu repercussões nos territórios que vão além dos aspectos biológicos e epidemiológicos, causando impactos na saúde e em outras dimensões sociais da vida. A Atenção Primária à Saúde (APS) destaca-se neste contexto como potente ferramenta para o enfrentamento ao vírus. Objetivo: analisar como a população da área de abrangência da APS percebe e traduz em práticas do cotidiano as medidas de prevenção e controle da COVID-19. Método: Trata-se se um estudo transversal com integração metodológica (abordagem quanti-qualitativa) e de caráter exploratório, desenvolvido com a população dos territórios de abrangência de duas Equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) de Porto Seguro -BA. A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário estruturado (dados sociodemográficos, relação com a ESF e fontes de informação, percepções e práticas de prevenção e controle da Covid-19) e por entrevistas dialogadas (que abordaram o enfrentamento, informações e impactos da pandemia). A análise de dados quantitativos e qualitativos foi realizada com apoio dos softwares SPSS e IRAMUTEC, respectivamente. Resultados e Discussão: Foram aplicados 144 questionários, com participação predominantemente feminina (75,7%), parda (55,6%) e renda familiar de um salário-mínimo (52,8%). As entrevistadas (90%) receberam informações sobre lavagem de mãos (93,1%), uso de 3/3 álcool em gel (96,5%) e uso de máscara (96,5%). Os profissionais de saúde do território foram a principal fonte de informação (76,3%) e a mais confiável (74,3%) com associação estatisticamente significante (p<0,05) entre uso da máscara e indivíduos que se informam por meio de profissionais de saúde. A Classificação Hierárquica Descendente identificou sete classes que formaram três categorias: 1)“As medidas de prevenção da Covid-19 e o Universo Informacional”, em que as estratégias de proteção são utilizadas em diferentes níveis, maior dificuldade para realização do distanciamento, sentimento de confusão com o excesso de notícias e necessidade de checagem da veracidade das informações; 2) “(Sobre)vivendo à pandemia: aspectos psicossociais relacionados à Covid-19”, em que as mudanças promovidas pela pandemia resultaram em sofrimento psíquico, relacionado ao luto, infodemia e isolamento social e precarização da vida, ligada principalmente a perda do emprego; 3)“O enfrentamento à pandemia: as políticas de governo e o papel da APS”, em que é atribuído aos governantes a responsabilidade na efetivação das medidas de controle do coronavírus, baixa credibilidade às falas de agentes públicos e a importância da ESF na assistência à saúde nos territórios em meio a pandemia. Considerações finais: As percepções das entrevistadas não se limitam às medidas de prevenção, mas envolveram questões políticas, econômicas e subjetivas. O caráter indissociável de tais temáticas indica que a abordagem do setor saúde no enfrentamento à pandemia deve englobar as questões sociais, uma vez que são essenciais na superação das iniquidades em saúde agravadas pela Covid-19.