ORFANDADE E FEMINICÍDIO: tessituras entre as dimensões política, social e emocional nas narrativas de filhas de mulheres assassinadas.
Feminicídio; Orfandade; Violência de gênero; Emoções; Política.
Os desafios a efetividade de políticas públicas capazes de impedir o homicídio de mulheres em função de seu gênero, e da sociedade em romper com a hegemonia do patriarcado, tem como um de seus mais perversos efeitos uma condição, geralmente invisibilizada, mas que atinge crianças e adolescentes em todo o mundo, a orfandade por feminicídio. Considerando a relevância social da temática, propôs-se neste estudo analisar e compreender a experiência da orfandade por feminicídio a partir das narrativas de mulheres adultas que vivenciaram a perda violenta de sua mãe na infância ou adolescência. Partindo desses pressupostos, realizamos uma revisão integrativa de literatura que visou a construção do estado da arte sobre a temática. Além disso, buscamos compreender o papel das dimensões política, social e emocional na constituição dos modos de vivenciar a perda violenta e analisar como os lutos pelo feminicídio materno e perdas subsequentes foram apresentados e significados pelas participantes em sua interface com a dimensão pública e coletiva desse crime. Foram realizados dois estudos de caso com mulheres adultas utilizandose o método da entrevista narrativa como estratégia de acolhimento e escuta e, posteriormente tais narrativas foram transcritas e submetidas a Análise do Discurso. As trajetórias das participantes são marcadas por múltiplas violências produzindo emoções como medo, desamparo e insegurança que interferem nas relações afetivo sociais e reverberam até a vida adulta. Tais emoções são, predominantemente, reduzidas a uma dimensão clínico-terapêutica e individual descaracterizando a dimensão política, pública e coletiva que envolve o feminicídio e seus efeitos nas trajetórias de vida das filhas sobreviventes.